11 de Setembro

O aniversário do ataque terrorista em Nova York é sempre um dia triste para mim, além da compaixão por seres humanos inocentes assassinados que todos deveriam sentir, há 8 anos eu estava lá e vi a tragédia de perto. Estávamos no módulo de patisserie e naquele dia aprendíamos tudo sobre custards. No exato momento do impacto estávamos nos fogões cozinhando um creme inglês e o creme brulée já estava no forno. Paramos tudo, tiramos as sobremesas do forno antes de prontas, jogamos tudo fora e fomos embora. Nunca mais olhei para um creme brulée da mesma maneira, na verdade acho que nunca mais pedi um em algum restaurante e muito menos preparei... é, há oito anos não como creme brulée. Antes de deixarmos o prédio olhamos pela janela, só conseguimos ver fumaça que achávamos estar encobrindo as torres. Nos organizamos para acolher os alunos que moravam fora de Manhattan e não poderiam ir para casa. Uma menina chorava muito porque seu marido tinha uma reunião no World Trade Center e não atendia o telefone. Nesse momento já sabíamos que se tratava de um ataque terrorista, que as torres estavam no chão, que o Pentágono tinha sido atingido e outro avião tinha caído. Eu e minha amiga japonesa, Masayo, que morava no Brooklyn, fomos para minha casa. As ruas já estavam fechadas para os carros e tomadas por uma multidão. Enquanto descíamos da rua 23 para a 17, a maioria das pessoas vinha no sentido oposto, andando rápido, apavoradas, algumas empoeiradas, tentando usar seus celulares que não funcionavam. Precisávamos almoçar, então fomos ao supermercado e vimos as pessoas enchendo os carrinhos com enlatados e muitos galões de água. Nos olhávamos mas mesmo sem falar nada não fizemos como os outros, só colocamos no carrinho os ingredientes para um penne a putanesca que faríamos para o almoço, sorvete e biscoitos de sobremesa, ah, e algumas latas de cerveja japonesa. Voltamos pra casa e vimos as imagens pela televisão, mas nos sentíamos anestesiadas e a ficha só foi caindo aos poucos. Minha amiga foi a pé pra casa no dia seguinte e eu, pelos próximos 5 ou 6 dias, vaguei pelas ruas sozinha, sentindo aquele cheiro estranho, vendo a cidade esvaziada, as pessoas tristes, os cartazes com os desaparecidos pregados em todos os lugares ou assisti televisão comendo sushi de supermercado e tomando cerveja japonesa. Queria ajudar doando sangue pelo menos, mas milhares fizeram o mesmo e não precisavam mais de sangue, mesmo porque não tinham vítmas com vida sendo resgatadas. Na outra semana as aulas foram retomadas e aprendemos a fazer tortas, era um alívio ter uma atividade, estava tão concentrada que fazia o dobro de tortas e saía da escola carregada de caixas. Antes de ir pra casa passava no Chelsea Pier e deixava as tortas para os bombeiros e voluntários que trabalhavam nos resgates, eles as recebiam com alegria, agredeciam bastante e eu voltava um pouco mais leve pra casa.

Receita básica de massa de torta:
254g Farinha
122g Açúcar
127g Manteiga, cortada em cubos
1 Ovo, ligeiramente batido
1 pitada de sal

Pré aqueça o forno na temperatura média. Misture bem a farinha com o açúcar e o sal. Acrescente os cubos de manteiga aos poucos quebrando-os em pedaços menores e esfregando com os ingredientes secos com os dedos. A massa deve ficar com aparência de queijo ralado. Nesse momento junte o ovo e incorpore na massa até ficar homogênea. Não manipule muito para não trabalhar demais o gluten da farinha e endurecer a massa. Faça uma bola e leve à geladeira por 1 hora. Abra com um rolo numa superfície com farinha e transfira para uma forma de torta, cubra com papel manteiga e arroz. Para tortas com recheios que precisas assar, pré-asse a massa por 15 minutos, tire o arroz e asse por mais 5 minutos. Para tortas com recheios que não precisam assar, ou assar bem rapidamente, asse a massa com o arroz por 15 minutos, retire o arroz e asse por mais 10 minutos, até que ela obtenha uma cor dourada.

Flor de Sal

Enquanto a imprensa e nossos adoráveis políticos se preocupam com o tal de pré-sal, nós brasileiros apreciadores da boa gastronomia levamos um golpe duríssimo sobre o qual ninguém fala a respeito: foi proíbida a importação de nossa adorada flor de sal. Fiquei em choque quando fui ao Santa Luzia e me explicaram que os estoques já estavam acabando e o produto deixaria de ser vendido. Como assim? Por que não vou mais poder finalizar meus pratos com a crocância salgada e pura do meu Sal de Guerande? Só por que no Brasil é obrigatório acrescentar iodo ao sal vendido para consumo humano? Tudo bem que o iodo é importante para a saúde e sua falta pode causar uma doença chamada Bócio em adultos, cretinice em bebês e prejudicar o desenvolvimento físico mental em crianças. Mas a flor de sal é usada apenas para finalizar os pratos e até onde sei eu vivo num país democrático, sou livre e quero ter o direito de escolher ingerir iodo ou não. Para piorar minha decepção na prateleira do supermercado agora tem produto brasileiro que nada mais é do que sal mais grosso iodado se fazendo passar por flor de sal. Quer dizer que falar que é uma coisa que não é pode?